I Capitulo – A Promessa da Luna 5/5/1925, Montanha bucknan, South KoreaAbro os olhos doridos de ter adormecido a chorar, a luz do sol era dolorosa, parecia ironia de toda a escuridão que sentia no peito.
Como se atreve esta luz a brilhar, como se nada fosse? Como o mundo se atreve a regressar à normalidade no fim da noite passada? Da noite terrível que escureceu todos os meus sonhos e esperanças?
E ela ainda me dizia que sentia o meu poder! Que poder? O meu poder era ela, apenas ela.
O soluçar regressa assim como as lágrimas, enquanto vestia o fato negro a cheirar a naftalina, a única fez que o tinha usado foi num pesadelo e assim que acordei rezei para que fosse a única.
Arrastei-me até à sala. As nove pessoas que estavam distribuídas pelos cadeirões estavam também de negro em compaixão a mim, muito calados e sérios. Agora até pareciam uma verdadeira família! Talvez se sentissem apenas todos com a consciência pesada de nunca a terem aceitado, de a terem gozado como os demais.
-“Filho…”
-“Cala-se pai, por favor!” Digo eu de um modo cortante, talvez mais rude do que tencionava ser.
-“Todos nós lamentamos muito o que aconteceu com a Luna, Kibum!” Dizia a minha priminha pequenina enquanto se encaminhava para mim. Talvez ela fosse a única pessoa verdadeira naquela sala.
Estico os braços na sua direcção para lhe dar um abraço… ou seria para receber um abraço?
De joelhos, escondia o meu rosto encharcado de lágrimas nos seus caracóis tão raros, abafando o meu soluçar no seu ombro, coberto por uma manga de renda.
Ninguém dizia nada, apenas o som da minha respiração descontrolada ecoava em toda a sala cheia de nada.
Na hora do funeral o sol tinha-se escondido, envergonhado talvez por ser o único a sorrir. Teria então invocado as nuvens e mandado estas se vestirem de negro, de igual modo como as pessoas da aldeia, que com medo de irem para o inferno, vestiam as suas roupas falsas negras e descascavam cebolas em casa para virem na marcha até ao cemitério, a chorar como era o suposto.
A minha vontade era gritar “Deviam de ter vergonha!” para todas elas, pois todos a subjugavam, para todos eles era a maluquinha da aldeia, tudo o que ela dizia ou era mentira descarada ou ilusões do arco-da-velha, magicadas pela sua cabecinha aluada.
Se a minha Luna era diferente? Era…era a pessoa mais especial que conhecia, a pessoa que eu amava e que me amava a mim mais ou tanto como amava o mundo tão injusto com ela.
Ela apenas sorria, sempre…E aconchegava-me com a sua pele, o seu cheiro ligeiro a alfazema, o seu olhar brilhante e puro, os seus cabelos livres esvoaçantes, tal como a sua alma que ignorava melhor que eu e que ninguém, todas as palavras agressivas e cruéis que recebia em cada dia.
Anoitecia e todas as pessoas presentes abandonaram a campa da minha Luna, menos eu. Sentado à frente dela, já sem forças para me levantar ou chorar, relembro a noite passada.
[flashback]
Corro com todas as minhas forças até sua casa, a avó dela, sua única família, abre-me a porta. Custava-me acreditar que aquele rosto tão envelhecido fosse avó de Luna, talvez bisavó.
Com o seu olhar sereno e brilhante manda-me entrar…Como podia ela estar a sorrir?
-“Desculpe senhora Fuk kiu, a Luna? A notícia que recebi é mentira não é? A Luna tem faltado à escola mas é para melhorar a sua saúde, não está pior….está?”
-“Tem calma meu rapaz, o destino não se muda, mas não te preocupes yeobo, a Luna a ti não te deixa.”
Sou conduzido até ao quarto dela, todo em tons de branco e rendas aprumadas. Ela estava deitada na cama, mais pálida que o normal, com os lábios, que sempre carregavam um vermelho vivo, agora preenchidos imperfeitamente de um lilás clarinho, fraco e carente. Os seus olhos brilhantes mal se viam, pois estavam semi-cerrados.
Tinha uma mão sobre a sua barriga com o anel de metal em forma de lua crescente que lhe dei no aniversário ainda colocado no dedo polegar.
Sento-me na berma da cama com o coração apertado de a ver naquele estado, a minha Luna cheia de vida estava agora a apagar-se.
Pouso a minha mão trémula sobre a sua na sua barriga, e digo para comigo que desejava estar naquele lugar em vez dela.
É então que oiço a sua voz doce sair dos seus lábios finos:
-“Nem penses…”
-“Em quê meu amor?” Pergunto eu surpreso. Ficava sempre surpreso quando ela me lia os pensamentos apesar de ser uma coisa natural dela.
-“Em desistir…do mundo!”
-“Que estás a dizer Luna?”
-“O mundo precisa de ti meu sol, promete-me que não desistes…”
-“Luna…Amor pára com essas coisas…Para que queres que te faça promessas? Eu não farei nada sem ti! Eu não vou a lado nenhum sem ti…Agora shh, descansa para ficares boa depressa.”
-“Eu não vou ficar boa, eu vou embora deste mundo!” Diz-me ela com um sorriso confiante no rosto.
Não consigo evitar que o medo que sentia dentro de mim transbordasse para os olhos e beijo-lhe os lábios frios, um beijo sentido e poderoso.
Agora também eu via uma lágrima no canto do seu olho:
-“Promete-me que não fechas o teu coração!”
-“Eu não sei respirar sem ti!” Digo-lhe tentando controlar o meu soluçar, entrelaçando os meus dedos finos nos dela, ainda mais débeis.
Ela a esforço põe a sua outra mão no meu peito e fecha os olhos sorrindo mais uma vez:
-“O teu coração, a tua alma poderosa não se pode fechar, irás ouvir-me sempre que o quiseres, basta não o fechares…”
-“Amor não…”
-“Promete-me por favor….”
-“Eu pro…meto… eu prometo…” Digo sem coerência na minha voz.
Todo o rosto da Luna sorri então, deitando-se para traz.
Eu abraço o seu corpo magro e frio com ternura:
-“Por favor, não penses em deixar-me, tu prometes-te que nada nos separava, tu és forte amor. Lembras-te naquele dia à beira rio? Tu disseste que querias ir andar de barco, lembras? Nós ainda não fomos andar de barco amor. Assim que melhorares nós vamos juntos, ok? …Amor?”
O débil coração dela tinha parado de bater, o seu peito tinha deixado de oscilar com a respiração. O meu de igual modo parecia ter parado pois parecia ficar sem vida com o aperto que sentia no peito.
Grito de revolta ainda agarrando-a nos meus braços, pedindo ao céu, à terra a tudo quanto era sagrado para ela acordar, para reagir.
[fim do flashback]
Amor fazes-me tanta falta, como posso eu cumprir a minha promessa se não sei o que possa fazer sem ti?
Procuro no escuro daquela noite fria a Lua e é então que a vejo, brilhante e poderosa, a rainha do céu.
Um sorriso ligeiro nasce no meu rosto conquistado pelas lágrimas e é então que juntamente com o meu sorriso, surgiu um clarão direito a mim. Primeiro parecia um enorme foco branco que me ofuscava, depois quando consegui habituar os olhos cansados, consegui ver um corpo, caminhando no ar. Era uma bonita mulher, vestida de um vestido digno de uma princesa, aproximava-se de mim e eu apenas a olhava sem reacção... até conhecer aquelas feições…
Era ela, era a minha Luna…Não…só podia ser um sonho, era isso eu estava a sonhar…
Ela mais uma vez lê-me os pensamentos esclarecendo-me a dúvida, não era um sonho.
-“Não estás a sonhar yeobo, eu prometi que nunca te deixava, uma promessa feita com o coração nunca poderá ser quebrada. E tu? Vais cumprir a tua promessa?”
-“O que tenho que fazer, o que posso fazer sem ti?”
-“Eu estou aqui, estou dentro de ti…”
E é então que sinto uma força atractiva ser exercida sobre o meu corpo, o que me faz perder a consciência dos meus movimentos.
Apenas deixava que a Luna se dirigisse para mim, cada vez mais perto até entrar dento do meu corpo.
Nesse momento sinto um vento forte arrancar-me do solo fazendo-me levitar.
Ouvia simplesmente o “tumtum” do meu coração. Sinto todo o meu corpo estremecer ao sentir o choque do novo calor celestial evadir-me cada célula.
Fico assim, a um metro do solo, com os braços abertos como se esperasse um abraço. Sentindo uma sensação tão nova e ao mesmo tempo tão confortante como estar no sofá com uma mantinha a ouvir a chuva lá fora.
Devagar a luz apaga e o meu corpo pousa no solo. O frio da noite volta ficando apenas o calor residido no meu corpo, que agora tremia com os joelhos e as mãos no relvado húmido.
Tento controlar a respiração antes de sentir-me a latejar.
As minhas pálpebras começam a fechar lentamente com o meu corpo já completamente caído e dormente…estranhamente apetecia-me sorrir.
15/5/1925 Subúrbios de Seoul, South Korea-“Oppa o que se passa? Porque estás a olhar o céu?”
-“Querida temos que procurar um abrigo, vai chover!”
-“Não vai fazer trovões pois não?”
Pego-a ao colo com o mesmo cuidado e carinho de sempre e mimo-lhe a cabecinha sobre o meu peito.
-“Não tenhas medo, nada de mau vai acontecer!”
Olho para os dois rostos iguais assustados que me olhavam fixamente:
-“Meninos vocês também com medo? Já têm 13 anos, não são uns bebés!”
-“Onde arranjamos um sítio em que não entre a água? Hyung…vamos ficar doentes!”
-“Então?, shiu, aqui ninguém vai ficar doente, vamos encontrar um sítio ou eu não me chamo Lee JinKi, entendido?”
-“Daeh hyung!” Dizem-me em coro ainda com o rosto preocupado.
Metendo a menina ao meu colinho agacho-me olhando os meninos de frente:
-“Alguma vez vos deixei passar mal?”
E fico olhando-os com um sorriso confiante até a preocupação deles fugir e um sorriso ocupar os seus rostos lindos:
-“Anyo hyung, nunca!”
…Continua…