CAPÍTULO XIII
"Quando os nossos medos nos encaram de frente, o que fazemos?"
Kevin e TaeJoon estavam uma vez mais no mesmo quarto, a olhar para o teto, nada mais faziam que isso, não falavam, não diziam mais nada, apenas cruzavam olhares com o teto. Estava a chover torrencialmente, a chuva batia ruidosamente na janela, e eles não conseguiam dormir. TaeJoon tinha a sua cabeça tapada, porém espreitava por uma pequena falha entre a cortina da sua franja e o tecido do saco-cama. Ele não dizia nada, mas Kevin sabia que ele tinha medo, sentia-o ao olhar para ele. Mas seria estranho dormir com o dono daquele toque de novo. Acordar e sentir a pele dele tocar na sua naquela madrugada de sexta-feira chuvosa e ruidosa que não deixava ninguém dormir. Seria estranho oferecer um espaço na sua cama àquela pessoa. Kevin estava estranho e sentia-se estranho, sentia algo fora do comum. Poderia aquilo ser um novo começo? Há quase uma semana que ele e TaeJoon partilhavam o quarto secretamente. Mas o Kevin estava estranho demais para lhe perguntar se queria entrar na sua cama para dormir com ele e possivelmente agarrar-se a ele como da última vez. Não, ele não queria pensar dessa forma. Até que ele ouve isso mesmo que ele queria perguntar da boca, dos lábios carnudos, da voz doce mas máscula e grave, oposto da sua, voz essa de TaeJoon, a pessoa com o toque igual ou semelhante ao meu, toque esse agora inexistente, que existira quando eu também existira, existira comigo, e desaparecera comigo. TaeJoon espreitou e começou a trovejar. Ele encolhia-se todo, estava com medo, mas articulou as palavras.
TaeJoon, olha para ele assustado pelos barulhos: K-Kevin... posso... d-dormir contigo?
Kevin, sorri por fora e sente uma ligeira impressão no estômago por dentro: D-deh... Podes, mas despacha-te, porque o calor da cama pode dissipar-se se demorares muito.
TaeJoon, bate os dentes devido ao frio ao sair do saco-cama: Aish, está mesmo frio...
Kevin, senta-se na cama: Queres que vá buscar umas meias de dormir para calçares?
TaeJoon, sorri: Aniya, kwaenchanha. É de andar de um sítio para o outro. Já fica tudo bem assim que me deitar de novo... o saco-cama é quente mas é apertadinho e mete medo... saber que estou numa cama tranquiliza-me mais... principalmente em dias destes.
Kevin, sorri e deita-se de frente para ele: Hmm, arasseo, dorme bem. Qualquer coisa, tens o Kawaii a dormir em cima dos pés, por isso, o peso será ele e nada mais, e se não conseguires dormir, diz, eu enxoto-o e mando-o ir para a cozinha para a cama dele.
TaeJoon, sorri: Aniyo, estou bem. Dorme bem, Kevin-ssi.
Kevin, apaga a luz e vira-se de costas para ele: Hmm, tu também, hyung.
Kevin deixa-se de movimentar e assim que um relâmpago volta a cair, TaeJoon fecha os olhos com força e agarra-se a Kevin com força, pondo o seu braço por cima da sua cintura e enrolando-se nela como uma fita ou algo do género. Kevin estava acordado ainda e apenas sorri. Eles acabam por adormecer dessa forma os dois e passadas algumas horas, Kawaii tenta-se enfiar por entre eles sem sucesso, Kevin tinha-se agarrado a TaeJoon da mesma forma, então ambos dormiam frente a frente, com as mãos agarradas e uma delas a enrolar-se em torno da cintura do outro. TaeJoon abre os olhos e com a surpresa acaba por cair da cama e puxar Kevin com ele. Kevin acorda em cima do TaeJoon. Os olhos cruzavam-se, a pele tocava-se, com muito esforço apenas o corpo se tocava, eles conseguiam sentir os músculos, o coração acelerado, e sentirem-se um ao outro apesar da roupa que os separava. Kevin levantou-se a meio do ambiente e sentimento estranhos, ignorando-os.
TaeJoon, completamente embaraçado pela situação: Eu... mianhe... acordei mal e sem querer puxei-te e caímos os dois no chão... mianhamnida, foi um acidente...
Kevin: Não precisas de explicar, a culpa foi minha. Eu sei que parte foi minha. Eu acordei quando tu, por causa do Kawaii e reparei. Eu... às vezes... m-mexo... mexo-me a dormir.
TaeJoon, sorri de forma um pouco descaída, quase como que se quisesse que o Kevin tivesse feito aquele gesto intencionalmente, que na verdade tinha feito: Oh, arasseo.
Kevin, com um sorriso: Bem, que roupa queres? Vem cá escolher. Eu já escolhi a minha.
TaeJoon, sorri: Hmm, umas calças escuras? Sem ser jeans rotas, porque tenciono vestir os calções da natação, e tenciono estar quentinho... e com rasgões não funciona bem...
Kevin: Hmm, então eu vou-me vestir para a casa de banho para estares mais à vontade.
TaeJoon, um pouco acanhado e estranho: Bem, não precisas... somos homens, certo? Além disso um simples virar de costas deve ser suficiente... não? Quer dizer, não vamos propriamente olhar um para o outro, por isso acho que não precisas de sair, ainda mais sendo o teu quarto. Nesse caso quem deveria sair seria eu, e não tu.
Kevin, senta-se na cama: Apenas acho que te sentirias mais à vontade dessa forma.
TaeJoon, faz beicinho: Podes ficar, óbvio! O quarto é teu!
Kevin fica fixo na cara de TaeJoon com aquele beicinho, aqueles lábios e aquelas sobrancelhas grossas e negras, desenhadas numa expressão de interrogação. Kevin estava perdido no olhar negro e brilhante. Kevin estava possuído e queria possuir. Ele queria aquele par de opalas brilhantes que olhavam diretamente para ele. TaeJoon olhava apenas e Kevin voltou a emergir à superfície dos seus pensamentos e sacudiu a cabeça.
TaeJoon, senta-se ao lado dele apenas em boxers: O que se passou?
Kevin, examina aquele corpo discretamente e desvia a cara: Veste-te... p-por favor...
TaeJoon, levanta-se e coça o pescoço atrás com a mão: Pois, não podemos perder tempo agora, temos de ir para as aulas... mas Kevin-ssi, o que é que posso usar com isto?
Kevin, sorri um pouco: Sinto-me como tua umma, hyung... olha, um hoodie!~ Gostas?
Kevin mostra-lhe um hoodie seu verde água com uma frase, “Just Be Who You Are, Without Any Fear”. Ele sorri ao ver o hoodie e entrega-lho juntamente com uma v-neck branca de manga comprida. Kevin volta a ir ao armário e procura um outro hoodie igual.
Kevin: Na altura comprei dois iguais, porque achei que a frase me servia bem, mas deixei de usar roupas de cor na altura, bem, agora uso, mas naquela altura não. E este é o hoodie magenta claro. Gosto muito deles. Qual é que queres?
TaeJoon, sente um pouco de calor nas suas bochechas: Vais vestir um?
Kevin, sorri: Aniyo, era só para te mostrar, para escolheres.
TaeJoon, sorri timidamente: O cor-de-rosa fica-te bem...
Kevin, espantado: Fica? Não é demasiado feminino... este cor-de-rosa?
TaeJoon: Como diz o hoodie, sê quem és sem qualquer medo, e se gostas de cor-de-rosa, usa cor-de-rosa, não é crime, e é uma cor que te fica bem...
Kevin, sorri: Então já sei o que vamos fazer hoje depois das aulas, TaeJoon-ah.
TaeJoon, curioso: E o que é isso que vais fazer? Ou melhor, vamos...
Kevin, sorri: Vamos ao cabeleireiro onde costumo ir com as noonies pintar o cabelo.
TaeJoon, espantado: Fazer o quê? Vais pintar o cabelo?
Kevin, sorri: Deh, há muito tempo que não faço um look diferente. E eu gostava de me ver loiro, devo ficar bonito, mas não sei se pinte de loiro ou me deixe estar com este cabelo castanho-escuro. Ou pintar com um ligeiro tom castanho aruivado...
TaeJoon, sorri: Tu estás bem assim, esse cabelo fica-te demasiado bem, mas se quiseres mudar, eu vou contigo mudar, e posso-te pagar qualquer coisa, porque tenho um cartão multibanco, e acho que a minha umma não o congelou por ter fugido de casa, porque ela sabe que preciso de dinheiro para viver e que não é assim que vai conseguir que volte. Mas bem, eu pago-te qualquer coisa por agradecimento por me deixares estar aqui...
Kevin: Hmm, arasseo. Mas não precisas de pagar, eu gosto de te ter aqui, é divertido...
TaeJoon, ri-se: Aniya. Hoje pago-te o almoço, está decidido, e pago tudo o resto, incluindo o teu penteado e tudo aquilo que quiseres, desde que não me leves à falência... chama-lhe o Dia Internacional do Kevin-ter-tudo-aquilo-que-quer-pago-pelo-hyung.
Kevin, sorri: Jinjja? Tudo? Posso levar uma rilakkuma para a escola então?
TaeJoon, ri-se: A minha umma chama-me rilakkuma, por isso podes.
Kevin, espantado, abraça-o na brincadeira: És uma rilakkuma, hyung?
TaeJoon, engole a saliva em seco sem saber o que fazer: D-deh, mas temos de ir e ainda nem estás vestido... nem eu estou, por isso preciso de me vestir, dongsaeng... e tu também.
Kevin, larga-o vagarosamente um pouco acanhado: D-deh, tens razão... preciso de ir buscar as coisas para vestir...
Kevin procura pelos objetos e veste-se rapidamente com os calções de banho, sentado na cama, de costas para TaeJoon, que se calçava do outro lado da cama, TaeJoon estava quase pronto, apenas precisava do hoodie de Kevin. Mas Kevin estava um pouco atrasado. Precisava de maquilhagem, precisava de roupa, precisava de tudo.
TaeJoon, despenteia-o um pouco e dirige-se para o armário: Pabo. Ainda não escolheste a roupa... usa o hoodie com uma sweatshirt e umas jeans... olha, estas brancas, e o hoodie e uma camisola branca... porque é que não fazes assim?
Kevin: Eu tenho umas botas que ficam mesmo bem aí, mas olha... os hoodies são iguais...
TaeJoon: E qual é o problema? Ambas são peças de roupa...
Kevin: As pessoas podem pensar coisas que não correspondem à realidade...
TaeJoon: E o que importa o que as outras pessoas pensam?
No parque em frente ao rio Hangang, lado norte
EunMi estava sozinha sobre a margem do rio a fotografar a paisagem das árvores cheias de neve e do rio parcialmente congelado pelo tempo gelado que se fazia sentir, imortalizando aquele momento com a sua máquina profissional. O céu parecia pintado por aquarelas, e o sol tardio nascia. EunMi estava a repetir a mesma fotografia de várias perspetivas e apareceu-lhe diante dos olhos um sujeito conhecido dela, da sua turma, também ele com uma câmara, talvez mais evoluída que a sua, e tira-lhe uma fotografia de perfil enquanto ela tirava outra fotografia.
Mir, senta-se no banco ao lado dela: EunMi-ah, o que fazes aqui sozinha tão cedo?
EunMi: HYA! Desconcentraste-me e a fotografia saiu mal!
Mir: Podes sempre usar ambas e editar no computador, fica com um efeito esfumaçado...
EunMi: Assim perde a piada! Eu gosto é de focar e disparar, não editar...
Mir, sorri: Tens razão, sermos nós mesmo a obter o resultado final sabe muito melhor porque sabemos que estivemos diante de uma paisagem mais bela que a própria fotografia, e se editarmos, sabemos que deixa de ser fotografia e passa a ser outra forma de arte que usa fotografia e design. E outra coisa, as falhas e imperfeições da paisagem fazem dela perfeita, e se estivermos a editar a fotografia, não passa de uma edição plástica.
EunMi, sorri: Esse sim, é o ponto de vista de um fotógrafo.
Mir, faz beicinho: Estás a dizer que não tenho um ponto de vista de um fotógrafo?
EunMi, foca a lente numa árvore: Eu nunca disse isso...
Mir, olha para ela e faz beicinho, roubando-lhe a câmara: HYA! Olha para mim quando falares comigo e larga a câmara por um bocadinho, ela não vai a lado nenhum...
EunMi, olha em frente: Mas vai a inspiração, o que é ainda pior.
Mir, sorri: Não, não vai se tiveres uma fonte de inspiração.
EunMi, olha para o céu: Dás-me uma das tuas? É que eu não tenho nenhuma...
Mir, ri-se baixinho: O máximo que posso fazer é dar-te um espelho...
EunMi, confusa: Para quê é que me queres dar um espelho?
Mir, engole saliva e coça o pescoço com a mão: P-para... olhares para trás de ti e conseguires ver a beleza do mundo que te rodeia de todos os lados. É isso.
Na JinSan International University
Horas e horas passaram. Aulas sobrepunham-se a aulas, umas atrás de outras, ocupando o espaço livre entre estas com míseros intervalos e trabalhos de grupo ou individuais, ou teses, ou trabalhos práticos, estágio, entre outros de menor grau de relevância. Era um desses intervalos. Sunbaes e hoobaes do mesmo curso vagueavam, bem, grupos específicos de sunbaes e hoobaes, como Yukwon, MinHo e WooHyun e o grupo de JiYoon e ChanYoung. JiYoon estava calada desde manhã, tinha chorado durante a noite, incapaz de tocar nas feridas e no assunto que a abalava e rezando para que ChanYoung não dissesse nada ou Yukwon não aparecesse à sua frente, mas eles cruzaram olhares acidentalmente e viram-se. ChanYoung notou um ambiente estranho, um olhar intenso que queria deixar de ser intenso, uma mágoa nos olhos dela e um arrependimento nos olhos dele. JiYoon fugiu.
ChanYoung, dirige-se para Yukwon: Oppa, o que se passa?
MinHo, atento a tudo o que vê, dá uma cotovelada discreta a WooHyun: Hyung, vemo-nos mais logo, lembrei-me que deixei uma coisa no meu cacifo do ginásio, depois mais tarde falamos, arasseo? É mesmo importante, temos mesmo de ir lá sem falta...
WooHyun: Oh, eu também vou, tenho a chave do cacifo dele, até mais logo, hyung!
Yukwon, acena-lhes: Arasseo. – Toma atenção a ChanYoung. – O que se passa?
ChanYoung: Sim, entre ti e a JiYoon unnie. Há uma espécie de tensão entre vocês, e ela foi-se embora, e eles também... o que se passa? Algo me diz que se passa alguma coisa...
Yukwon, dirige-se e senta-se num banco: Bem, a verdade é que é uma história complicada e algo me diz que isto vai ser novidade mas que parte já sabes...
ChanYoung, senta-se: Sou toda ouvidos, podes falar tudo aquilo que quiseres.
Yukwon, vai direto ao assunto: Já deves saber que a JiYoon gosta de mim. Bem, não é gostar, é gostar como mais do que um amigo, se é que entendes, tu conhece-la demasiado bem, e como são melhores amigas já sabes disso, obviamente. É um gostar com um significado demasiado profundo para ser classificado como gostar, a meu ver.
ChanYoung, espantada: Quem é que te disse isso? Ou como é que descobriste?
Yukwon: A própria JiYoon, ontem. Eu confrontei-a, tranquei-me com ela numa sala e ela disse-me tudo, eu pressionei-a a dizer, admito. Mas o que interessa é que ela me disse a verdade sobre tudo, confirmando as suspeitas que eu adquiri de há um tempo para cá...
ChanYoung: E quando é que te apercebeste mais ou menos de que ela gostava de ti?
Yukwon: Desde que ela começou a ficar meia estranha... se eu soubesse antes de tudo isso que ela gostava de mim dessa forma, ela não estaria estranha comigo, aí eu poderia ter sido dela e ela minha, mas agora não posso... por muito que eu queira, não posso.
ChanYoung: Traduz-me isso então. Gostas dela mas tens um motivo forte para não a quereres magoar, ou gostas de outra rapariga, e por muito que gostasses de namorar com ela, seria trair o teu coração de alguma forma.
Yukwon: Eu diria que é uma junção das duas, mas estou demasiado confuso. Eu gosto da JiYoon, mas há uns tempos para cá que me sinto atraído por outra rapariga, e acho que acabei por me apaixonar pelas duas... e o maior problema é que a JiYoon gosta de mim, mas a outra rapariga embora não pareça gostar de mim da mesma forma, dá-me pica, e por isso gostava de saber se daria alguma coisa. E por isso tenho de assentar a cabeça no lugar e pensar. Mas ChanYoung... não digas nada à JiYoon, ela podia ficar um bocado mal e custe o que custar, não a quero ver assim por causa de alguém como eu. Porque eu não mereço que ela goste de mim, eu sou mau para ela, via-a como um elemento feminino ao qual posso chamar de dongsaeng, mas também a via como a outra rapariga qualquer.
Na JinSan High School, perto da hora de almoço
Sandeul estava em frente ao portão principal com MinAh, ambos cúmplices, como sempre, aliás. Sandeul tinha o guarda-chuva aberto sobre a cabeça dos dois, e as primeiras gotas que o céu decidira derramar debatiam-se sobre o cimento e o alcatrão, escorrendo pelo passeio. Um rapaz rude de carapuço passa de mota e outro atrás manda-lhes um balde, direcionado a MinAh. O rapaz diz algo como “aqui tens, princesinha esquisita” e Sandeul cobre o vestido da MinAh com o seu casaco longo e impermeável, evitando que ela tivesse ficado encharcada, ficando apenas com parte dos seus collants com manchas da água que salpicara. MinAh abre devagar os olhos, e apercebe-se que quase abraça Sandeul.
MinAh, larga-se da camisola dele para lhe agradecer com um abraço: Gomawo...
Sandeul, fala num tom baixo: Nunca percebi porque é que aqueles idiotas fazem coisas destas... o que é que eles podem ter contra ti? Quem lhes dera a eles ter um dia uma rapariga como tu ao lado deles, mas eles não percebem o valor das pessoas, nem sabem olhar para o coração delas e perceber o que elas sentem... insensíveis...
MinAh: Há algum tempo que não me faziam nada... bem, tornou-se raro...
Sandeul: Não interessa, de vez em quando ainda fazem isso, e eu não quero que isso volte a acontecer nunca mais...
MinAh sorri para Sandeul, e o mesmo acontece pela parte dele e deixam-se estar em frente do portão, esperando um colega de turma.
Numa ponte sobre um curso de água secundário minimamente perto da baixa
Yuno olhava para a água. Uma água de várias cores e tons, gélida, com zonas de água mais limpa e outras de água mais suja. Era uma ponte restrita a carros, apenas humanos ou bicicletas conseguiam passar sobre essa ponte frágil e escurecida pelo tempo. Yuno descalçava-se e deixava um bilhete dentro dos seus sapatos, cobertos pelo seu impermeável, juntamente com o telemóvel. Era uma nota de suicídio.
Flashback – Yuno
Yuno e o professor universitário de japonês, Shimizu, seu pai, iam no seu carro recente de grande porte. Era semelhante a um jipe, era recente, devia ter uns anos. Era um Nissan, era escuro, tinha luzes LED fluorescentes, magoando o nosso olhar, circulando pelas ruas coreanas. O primeiro dia de Yuno em Seoul, dia 23 de dezembro de 2015. Shimizu guiava.
Yuno: Shimizu-chichi, chichi é como os japoneses chamam aos pais vamos onde?
Prof. Shimizu: Vamos fazer compras para a casa nova, e conhecer a namorada do appa.
Yuno: Eu não gosto disso, chichi... e eu não sei falar bem coreano...
Prof. Shimizu: Por isso é que a menina Shim te vai ajudar com isso... não tenhas medo.
Yuno: Eu não quero! Quero ir para casa!
Prof. Shimizu: Shimizu Yuno! Não me exaltes! Esta é a nossa nova casa!
Shimizu descontrola-se e acelera o carro, embatendo de frente com um objeto que rebolou e partiu o vidro. O carro travou bruscamente e os airbags abriram-se, queimando um pouco a orelha de Yuno devido à pressão e ao ar que encheram aqueles objetos em frações de segundos. Yuno adormeceu atordoada com o choque e Shimizu saiu do carro, socorrendo a vítima que havia feito.
Fim do Flashback
Taemin: HYA! Agora tenho de vir atrás de ti?
Yuno, que se preparava para saltar, alça a perna e senta-se nos ferros que delineavam o limite dos limites dentro da ponte, a muralha que protegia a ponte do pequeno rio e de tudo o resto. Yuno olha para ele repentinamente e prepara-se para saltar de qualquer das formas. Taemin agarra no braço de Yuno e obriga-a a desistir do suicídio, embora ela esteja determinada.
Taemin, obriga-a a pôr os pés novamente no chão: Wae? EXPLICA-ME, WAE?!
Yuno, tenta voltar para a estrutura de ferros paralelos: Porque sim, não faço nada aqui. Não tenho família para além do meu chichi, mas ele está desempregado e ocasionalmente dá explicações de japonês, contudo, a minha madrasta gasta grande parte do seu ordenado em roupas caríssimas e obriga-me a vestir-me como uma princesa. E depois apareces tu, que me obrigas a viver.
Taemin, afaga-lhe o cabelo, despenteando-a: E isso é razão para quereres acabar com a tua vida, micheoyo? Apenas tens de superar os problemas, não olhar para eles e agir como se fosse o fim do mundo, e que a morte seria a tua melhor opção... porque não é!
Yuno: O que sugeres que faça?
Taemin: Primeiro de tudo, tens de fazer amigos, não podes ser a rapariga excluída porque não se integrou entre nós. Depois, tens de arranjar um hobby e amar esse hobby.
Yuno, baixa a cabeça: Também... será que estava a reagir de forma impulsiva?
Taemin, arrasta-a para fora da ponte: Não faz sentido.
Yuno, começa a andar: O que é que não faz sentido?
Taemin: Tem de haver mais alguma coisa para te quereres suicidar...
Yuno: A minha mãe morreu e a minha recusa por sair do Japão fez com que mais alguém morresse, tudo por minha culpa, pelas mãos do meu pai, mas por minha culpa. Feliz?
Taemin, olha para ela: Como é que isso é possível? Não estás a alucinar, pois não?
Yuno: O meu pai atropelou uma rapariga e ela morreu, mas a culpa foi toda minha...
Taemin, pára em frente dela: Foi intencional por acaso, para dizeres que tiveste total culpa nessa situação? Foste tu que obrigaste a rapariga a atravessar a estrada e o teu pai a andar demasiado rápido? Não foste tu, pois não? Tenho a certeza que foi um acidente...
Flashback – Taemin
SuMin: Pois, o Kevin sente-se assim desde a morte da melhor amiga dele...
Sandeul e MinAh, em coro: Morte?
SuMin: Sim, ele teve um grande trauma e uma depressão, ele chegou a tentar suicidar-se com comprimidos e tentou mandar-se da varanda... ela fazia-lhe muita falta...
Sandeul, passa a mão no pescoço: Hmm, noona, as pessoas não falam muito com ele... mas agora eu percebo o porquê...
MinAh, presta atenção: Como é que ela morreu, unnie?
SuMin: Morreu atropelada... fez ontem 3 anos.
Fim do Flashback
Taemin: Não é possível... há quanto tempo é que foi? E foi cá na Coreia?
Yuno: Deh, foi cá, e foi há cerca de três anos...
Taemin: E como é que ela se chamava? Sabes? Disseram alguma coisa?
Yuno: Ela não tinha documentos com ela, apenas um cartão de estudante, mas estava manchado de sangue no sítio onde estava o nome, por isso foi impossível saber. A carteira estava suja de sangue pelo que o meu chichi me disse, e estava perto da mão dela. Porquê?
Taemin, sorri: Oh, nada, estava apenas interessado pelo assunto... ouvi uma história semelhante nalgum lado, e fiquei intrigado. Agora anda, a hora de almoço está quase a acabar... e como faltaste à última aula, decidi vir averiguar. E parece que fiz bem...
Yuno, sorri um pouco, de forma descaída: Porque é que te preocupas comigo?
Taemin, sorri: Apenas não gosto de ver pessoas serem vítimas de bullying e rejeitadas...
Yuno, sorri um pouco mais: Sendo assim, devo-te um agradecimento... arigatou.
Taemin: De nada. Mas promete-me uma coisa.
Yuno, olha para ele atentamente: Diz...
Taemin, mete as mãos nos bolsos: Vais pensar sobre tudo aquilo que te disse, arasseo?
Yuno, sorri: Arasseo. Eu vou pensar nisso. Mas entretanto vou pensar em despachar-me e ir para a aula, e tu devias fazer o mesmo, Taemin-san...
Nos balneários da piscina da JinSan High School, umas horas depois
TaeJoon, despe a camisola e dirige-se para Kevin: Então? Com vontade de nadar?
Kevin, olha para os pés: Hmm, não muita...
TaeJoon, sorri e dá-lhe uma ligeira cotovelada: Porquê? Porque não são aulas mistas?
Kevin, esconde a cara de TaeJoon e um ligeiro tom rosado nas bochechas: Aniyo... eu não sei nadar muito bem... sou tipo pedra, vou facilmente ao fundo....
TaeJoon: Não podes pensar assim, Kevin-ssi... tens de te imaginar como um barco leve e rápido e fingir que os teus braços são um par de remos que te levam para onde quiseres...
Kevin: Eu tenho um pouco de medo da parte funda da piscina. E de mergulhar...
TaeJoon, agarra-lhe a mão e massaja-a com os dedos em tom de conforto: Kwaenchanha, eu posso-te ajudar... e temos instrutores também para isso, por isso não estás sozinho... qualquer coisa que se passe, podes-nos dizer...
Kevin, sente as bochechas arder com aquele toque quente e confortante na mão: Preciso de me vestir, mas vou só à casa de banho, já venho. Não vás para a piscina sem mim, arasseo?
Kevin corre para a casa de banho e fecha-se na primeira que vê livre, encostando-se à porta, sentindo o calor das suas bochechas, com a sua respiração e fôlego acelerados, coração quase a saltar pela boca, pernas a tremer e uma impressão de certa forma nova na sua barriga. Kevin olha para o teto e começa a falar sozinho.
Kevin, sussurra: Porque é que me sinto assim? Porque é que me sinto assim, da mesma forma que me sentia com a Jae? Não faz sentido, não posso, não posso... não posso gostar dele, somos ambos homens, ele gosta de mulheres, eu gosto de mulheres, não faz sentido...
TaeJoon, entra na casa de banho e espera-o com os seus pertences na parte de fora: Kevin-ssi, está na altura de entrarmos... tens de te vestir rápido e pôr a touca e os óculos...
Kevin, sai da casa de banho onde estava: Oh, arasseo, desculpa...
TaeJoon, olha para as bochechas dele: Porque é que estás vermelho?
Kevin, começa a tirar a camisola: Oh, é porque está muito calor dentro dos balneários...
TaeJoon, ri-se: Pois está, que pergunta estúpida esta... toma, a tua touca e os teus óculos.
Kevin, sorri de forma descaída: Hmm, g-gomawo.
Os rapazes deixam os pertences trancados nos cacifos atribuídos aos mesmos após se vestirem e seguem para a aula de natação, onde para se conhecerem melhor, eles fazem todos a mesma piscina em estilo de competição. Tudo isso foi feito na aula, e depois o professor responsável intervalou com uma breve explicação sobre a natação, a sua carreira como professor de natação e sobre a piscina da escola e respetivo pavilhão. Depois seguiu-se a ver dos restantes alunos. Iam ver mergulhos desta vez.
Professor: Hwang SungHyun, é a sua vez.
Kevin, esconde-se: Eu tenho um bocado de medo de saltar...
Professor, mostra-se um pouco compreensivo: Um trauma?
Kevin: Aniyo... mas não deixo de ter medo...
Professor, coloca Kevin na prancha: Se não tem traumas, deve saltar e vencer os seus medos, arasseo, menino SungHyun? Por isso vá, chunbbi~ quando apitar quero ver o menino a nadar!~