A Better Christmas
Nem sempre o destino corre como desejamos, umas vezes o destino é simpático para nós mas outras vezes é cruel. Naquele momento ela não conseguia pensar em nada mais para além do destino cruel que esperava-os enquanto observava o amor da sua vida com o bebé deles de quase um mês nos braços, a embalá-lo gentilmente com um sorriso triste mas honesto nos lábios. Ele estava triste, destroçado até, mas ele sabia que tinha que disfarçar nem que fosse um bocado para não deixar a sua mulher, a mãe do seu primeiro filho, ainda mais triste e a sofrer pela sua partida.
Ele não sabia quando ia voltar a vê-los de novo. Na carta que enviaram-lhe há um mês, três dias antes de o seu filho nascer, estava escrito que ele foi recrutado para combater na guerra pela paz do seu país partindo dia 1 de Outubro, a dois meses antes do Natal, uma data que tinha um significado importante para a mãe do seu filho que sempre amou o Natal e queria que o primeiro Natal do filho deles fosse especial e memorável mas agora ele não estaria presente no primeiro Natal do pequeno Minjun, ele estaria fora a combater pelo seu país.
Talvez a sua missão demorasse apenas uns meses ou talvez estender-se-ia por um ano ou mais. Não havia um prazo a cumprir, a missão tinha que ser concluída, todos os homens capazes de combater tinham que partir sem excepções aos recém pais ou casados. Eles estavam em guerra e tinham um país para proteger. Ele tinha uma família para proteger e manter a salvo de toda a destruição, atormento, morte e melancolia que a guerra trazia consigo sem qualquer tipo de piedade. Ele faria todos os possíveis para garantir que nada de mal acontecesse na sua cidade, onde a sua nova família, a sua mulher e o seu filho, ficariam juntamente com os seus pais e sogros.
Ele não queria perder os primeiros meses de vida do seu primogénito, os momentos mais importantes que ele podia presenciar da vida do seu filho no entanto ele estava disposto a lutar por um futuro melhor para o seu pequenote e a única maneira de lutar por isso era indo para o campo de batalha. Com uma última caricia no pequeno e rosado rosto no seu filho de um mês, Choi Minho aproximou-se da sua mulher, parou em frente ao carrinho de bebé onde colocou delicadamente o seu filho antes de erguer-se perante a sua mulher e beijar a sua testa com afecto, murmurando-lhe por fim aquelas doces e belas palavras de amor.
"Eu amo-te minha bela esposa..."
"Eu também te amo, muito...”, ela sussurrou com a sua voz delicada e melodiosa, a voz que ele levaria memorizada na sua memória para reconfortá-lo naqueles momentos mais dolorosos enquanto estivesse junto aos seus camaradas de guerra. “Por favor volta a salvo, aconteça o que acontecer... eu quero-te de volta... nós precisamos de ti...", Choi Jangmi murmurou segurando no colarinho da farda militar de Minho. Ela tinha lágrimas teimosas a quererem escorrer dos seus olhos mas ela mantinha-se forte por ele. Ela tinha que ser forte também e cuidar do filho deles enquanto ele estivesse ausente e a protegê-los de outra maneira.
“Eu vou ter cuidado Jangmi, não te preocupes em demasia, tu sabes que sou um bom piloto!”, Minho tentou confortá-la um pouco sabendo que ela estava a conter as suas cristalinas lágrimas.
“Eu sei mas isso não é o suficiente para eu ficar descansada…”
“Cuida do nosso pequeno, está bem?”
“Sempre… até voltares para casa…”
"Eu prometo que estarei aqui no próximo Natal, minha princesa, eu estarei aqui junto a ti e ao nosso lindo filho…", foram as últimas palavras que Minho pronunciara antes de beijar-lhe com todo aquele sentimento de amor puro e fervente presente em cada movimento dos seus lábios. Jangmi não resistiu, ela deixou que as suas lágrimas escorressem pelas suas bochechas e beijou o seu marido de volta, ambos perdendo-se nos lábios um do outro como se nunca mais voltassem a ter a doce oportunidade de beijarem-se para o resto das suas vidas. O amor deles não seria destruído por esta separação, os seus corações continuarão firmes e a baterem um pelo outro.
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Difícil, era difícil de explicar aquilo que Jangmi sentia todos os dias quando acordava e não tinha o seu marido ao seu lado sabendo que ele estava a combater pelo seu país, pela segurança do seu povo. Ela orgulhava-se do homem que ele tornou-se e esperava recebê-lo em breve mas a sua esperança desapareceu em princípios de Março. Uma maldita carta do exército chegou a sua casa a declarar que o seu adorado e corajoso marido sofreu um acidente durante uma missão em que ele comandava a formação aérea para um ataque num dos múltiplos aviões que foram bombardeados naquela missão falhada. Agora Choi Minho encontrava-se desaparecido tal como muitos outros e o que estava mencionado é que ele estava provavelmente morto visto que o seu corpo não tinha sido encontrado nos destroços do avião nem na área aonde o avião despenhou-se, área essa do território inimigo.
O mundo de Jangmi caiu em ruínas enquanto lia cada palavra amarga da carta, lágrimas quentes e sofridas caiam pelo seu rosto sem ela aperceber-se. Ela tinha perdido o seu Minho. Ela não podia perdê-lo, eles tinham um bebé com seis meses que precisava de um pai, um pilar forte e protector. Ele não pode ter morrido, ele prometeu-lhe que estaria de volta no Natal, ele prometeu-lhe que cuidaria de si. Minho nunca quebrou uma promessa que fez-lhe, nunca... esta não podia ser a primeira de todas, não podia.
"Não podes estar morto... não podes Minho... volta... p-por favor...", Jangmi implorou antes de cair de joelhos no chão e desatar a chorar sem parar.
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Durante dois meses Jangmi somente chorou pelo seu Minho. Os seus pais tiveram que fazer-lhe companhia todos os dias e cuidar do pequeno Minjun porque Jangmi não era capaz de fazê-lo sozinha. Ela perdeu toda a esperança de voltar a ver Minho com vida e agora só esperava que ao menos encontrassem o seu corpo para que ela pudesse chorá-lo e abençoá-lo como ele merecia. A sua força de viver era o seu filho agora, o seu pequeno Choi Minjun, que era uma cópia de Minho quando ele era bebé. Minjun dava-lhe outro tipo de esperança, uma esperança que mantinha-a viva. Ela não podia deixar-se ir abaixo assim. Ela tinha que lutar e cumprir com o que prometeu a Minho. Ela tinha que cuidar de Minjun, educá-lo e acompanhá-lo em todos os pequenos e delicados momentos. Por Minjun ela ia manter-se viva e saudável, somente pelo seu querido e adorável Minjun.
Com muito altos e baixos, muito choro sofrido, muita nostalgia mas também muita força pela parte de Jangmi, aquele dia tinha finalmente chegado. O dia em que o seu Minho tinha prometido voltar a casa para passar aquela noite simbólica com ela e com o filho de um ano e dois meses deles. Foi severamente difícil para Jangmi preparar toda a casa para aquela específica época festiva. Apesar de tê-lo perdido, Jangmi ainda queria que aquela noite de Natal fosse perfeita, tal e qual como ela queria que fosse se o seu marido ali estivesse juntamente com o primeiro filho deles.
Nos últimos dias não tinha parado de nevar e as ruas gritavam que o Natal já tinha chegado. Minjun adorava a neve e todos aqueles enfeites coloridos e titilantes. Ele soltava gargalhadas tão adoráveis que Jangmi não conseguia evitar em sorrir ao ouvir o quanto o seu filho estava feliz com a chegada do Natal apesar de ele ainda ser muito novo para perceber o que estava a acontecer ao seu redor. Jangmi ainda sentia-se em baixo mas, a ver a alegria do seu pequeno príncipe, ela não podia deixar de sentir alguma felicidade no seu coração.
O Natal é uma data preciosa e especial para as crianças e ela queria que o seu Minjun gostasse daquela data. Jangmi não sabia se o Natal ia voltar a ser a mesma coisa para ela, ela amava o Natal com todo o seu coração mas depois da promessa do seu Minho… ela não sabia como ia ser a partir dali. A constante ajuda dos seus pais e sogros foi como uma bênção porque ela tinha a certeza absoluta que não aguentaria mover-se nem um centímetro sem eles nesta altura. Tudo o que vinha à sua mente eram as últimas palavras do seu Minho e sempre que ela estava sozinha a única coisa que ela conseguia fazer era chorar num canto.
Ele prometeu-lhe que estaria aqui mas ele não estará aqui. Ele nunca mais vai estar presente seja em que altura for. Aquela será a primeira promessa que Minho fizera-lhe e que ele não iria de todo cumprir. Jangmi engoliu um soluço e tentou limpar as lágrimas o mais rápido que conseguiu quando o seu pai entrou na sala de jantar para ajudá-la a colocar as últimas coisas na mesa de jantar, enfeitada ao gosto natalício da família. Ela tentava mostrar-se forte perante os seus pais e sogros contudo às vezes não era fácil. Ela estava cada vez mais frágil e quanto mais horas passavam daquele dia especial mais ela piorava.
Jangmi podia identificar-se como sendo uma bomba relógio a chegar ao tempo destinado da contagem final, ela estava prestes a explodir de tanta tristeza e saudade pelo homem que mais amou em toda a sua vida. Talvez se ele não tivesse feito aquela promessa tudo seria mais fácil para Jangmi. Um Natal lindo, perfeito e bom não será, nunca mais será para o resto da sua vida. Jangmi tinha perfeita consciência disso. Ela perderá o amor da sua vida, o pai do seu único filho e com ele foi o seu amor pelo Natal. Não havia nada para comemorar naquela data festiva apenas havia uma perda para abençoar e chorar, um homem para relembrar a cada ano que passava.
'Oxalá ele não tivesse prometido que estaria aqui hoje... eu sinto a sua falta, sentirei a sua falta para sempre e em especial neste dia...'
"Todos para a mesa, o jantar está servido!", a sua sogra disse chamando a atenção de todos os presentes na casa. Jangmi ajudou o seu sogro a sentar-se à mesa visto que o homem já tinha alguma idade e não movia-se muito agilmente agora. A campainha da casa soou na altura em que a sua mãe fazia a sua entrada na sala de jantar com o seu pequeno neto nos braços a brincar com uma das renas que estavam perto da árvore de Natal na sala de estar. Os cinco adultos ficaram algo surpreendidos por alguém estar a incomodá-los naquela noite passada em família, quem seria a esta hora?
"Deixa estar querida, eu vou ver quem é!", a mãe de Jangmi disse assim que Jangmi fez moção para ir abrir a porta e ver quem era a pessoa que incomodava-os.
"Obrigada, mãe.", Jangmi agradeceu imediatamente sorrindo para a sua mãe antes de ela sair da sala de jantar com o seu neto ao colo.
Jangmi, logo depois, certificou-se que a cadeira de apoio do seu filho estava exactamente ao seu lado na mesa. Ela era a única que conseguia alimentá-lo. Os seus pais e sogros bem que tentava mas o pequeno Minjun só queria a atenção da sua adorada mamã em qualquer situação, ele já era um menino da mamã e para Jangmi o seu pequeno filhote era a sua fonte de alegria e vida. Sem ele, Jangmi já teria desistido da sua vida há muito tempo. Subitamente uns braços fortes rodearam a sua cintura, um calor agradável e familiar envolveu todo o seu corpo até que um par de lábios tocou no seu pescoço por meros segundos antes daquela voz tão familiar sussurrar num tom rouco mas suave, profundo mas cheio de carinho.
"Eu prometi que estaria aqui junto a ti e ao nosso lindo filho nesta noite, não prometi?", todo o corpo de Jangmi vibrou com aquelas palavras. Os seus sogros em lágrimas e choro, sentados à mesa, confirmavam que ela não estava a imaginar coisas. Se perguntassem a Jangmi o que ela estava a sentir naquele exacto segundo, ela nunca saberia explicar. O seu coração estava eufórico num turbilhão de sentimentos. Alegria, saudade, mágoa, confusão, surpresa, tristeza, todo o tipo de sentimentos bons e maus. Lentamente, Jangmi foi virada ao contrário para estar frente a frente com o homem da sua vida, Choi Minho, o seu marido.
Choi Minho desde criança que sempre adorou voar. O seu pai foi um piloto do Corpo Aéreo do Exército da Coreia do Sul e Minho nasceu a ser um piloto nato ao ponto de tornar-se num dos pilotos mais rápidos e ágeis do Corpo Aéreo do Exército com apenas 23 anos de idade. Todos os seus camaradas chamavam-lhe o Craque do Ar e até que a alcunha combinava com ele. Ninguém esperava aquele derradeiro acontecimento em finais de Fevereiro. Minho estava a pilotar um dos aviões como líder da formação aérea para bombardearem um conjunto de fábricas de munições e armamento dos seus inimigos mas a missão foi arruinada porque os seus inimigos esperavam-nos, preparados para o ataque. O avião de Minho foi atingido e o jovem de 23 anos saltou do avião com o seu paraquedas a tempo da explosão acontecer mesmo em cima dele a uns meros metros de distância.
A explosão e a queda no mar cheio de destroços de aviões deixaram-no em muito mau estado mas não o suficiente para ele morrer. Minho era um homem forte. Ele queria viver. Ele queria voltar para a sua família, para a sua mulher Jangmi e para o seu filho Minjun. Ele não ia morrer num campo de batalha se bem que morrer a lutar pela sua nação fosse uma honra mas ele não daria tal desgosto à sua família. Ele fez uma promessa à sua amada mulher e ele tinha que cumpri-la porque no dia do casamento deles ele prometeu que sempre cumpriria as suas promessas para com ela e, para além do mais, ele queria voltar a ver o seu filho, aquele sorriso lindo do seu filho. Pensar neles fê-lo recuperar dos seus ferimentos, fê-lo continuar a lutar pela sua vida e reencontrar uma forma de voltar para os seus camaradas e mais tarde para casa. Foi preciso muita força mas ele conseguiu e agora ele estava ali com a sua família, onde ele pertencia.
"Feliz Natal, minha bela esposa...", Minho voltou a dizer com um sorriso de orelha a orelha. Ele tinha sentido tanto a falta da sua bela mulher, a falta do sorriso contagiante dela, a falta dos seus lindos olhos castanhos que falavam mais do que palavras, a falta da sua melodiosa voz, ele até sentia falta dos momentos em que ela ralhava com ele.
"Tu estás aqui... estás vivo!", Jangmi murmurou tocando delicadamente com a ponta dos seus dedos no rosto rosado do seu marido. A pele de Minho estava gelada pelo nevão lá fora mas ele estava definitivamente vivo e ali, à sua frente. Num piscar de olhos Jangmi abraçou o seu marido com força, um forte desejo para nunca mais soltá-lo a tomar conta dos seus instintos e actos.
"Eu estou aqui meu amor, eu senti tanto a tua falta, eu amo-te, tanto...", Minho voltou a sussurrar abraçando a sua mulher de igual forma, os seus braços fortes e protectores a envolverem Jangmi como se a qualquer momento o mundo fosse acabar e ele não tivesse oportunidade para voltar a sentir o calor dela.
"E-Eu... eu t-também s-senti a tua falta... eu... eu amo-te! F-Feliz Natal", Jangmi soltou em soluços sem conseguir parar as suas lágrimas, desta vez lágrimas de pura felicidade pelo seu corajoso piloto ter voltado vivo a casa.
Minho está ali como prometido. Ele voltou para eles, para ela e para o pequeno Minjun deles naquela noite de Natal. Sim, ele perdeu o primeiro dente, o primeiro erguer, o primeiro gatinhar, os primeiros passos, as primeiras palavras, o primeiro ano do seu filho. Momentos únicos, belos, emocionantes mas isso não fazia dele um mau pai. A partir daquele momento ele vai ver o filho crescer, ele vai educá-lo para ser um menino forte e corajoso capaz de lutar e proteger a sua família num futuro ainda longínquo mas não impossível de ser concretizado. Ele estava de volta ao lugar onde pertencia, onde sempre pertenceu, junto à sua família onde é amado e acarinhado. Não podia haver melhor Natal no mundo porque para Jangmi, Minho e para o pequeno Minjun aquele era definitivamente o melhor Natal de sempre.