Capitulo 1- “Um Lar” Assim que cheguei à terrinha, Coreia do Sul, julgava que iria sentir um abraço de familiarização com aquele local, visto que tinha lá vivido até aos cinco anos com os meus tios na casa de família onde anteriormente também tinham vivido os meus pais. Mas não, nada me lembrava a minha infância, sentia que tinha parado noutra dimensão … e se um táxi não tivesse parado praticamente à minha frente, de certeza que em vez de procurar um transporte e perguntar a alguém informações, iria entrar em pânico e voltar para o avião.
Assim que entrei no táxi dei ao motorista um papelinho com a morada da minha antiga casa e pedi-lhe para parar no largo que ficava à entrada da rua. Estava ansioso para o ver, tinha uns baloiços e um jardim, cheio de flores de todas as cores. Lembro-me de colhê-las para a minha tia, e o meu tio me ralhar a dizer que não devíamos de apanhá-las pois desequilibrávamos a natureza.
Quando o homem parou o táxi eu juro que pensava que ou a gasolina tinha acabado ou algo tinha avariado no carro, pois aquilo não era o meu largo.
Paguei ao motorista e parei por momentos, olhei em redor e via os baloiços enferrujados, escavacados e grafitados e em vez de estarem rodeados de crianças e flores, via apenas um grupo de rapazes mais ou menos da minha idade, uns sentados no escorrega com um ar de meter respeito, outros encostados ao poste dos baloiços a fazer algo com o i-pod, outros a darem pontapés a uma bola que tinha ar de ser tão cara como as sapatilhas de marca que todos traziam.
Estava aparvalhado a olhar o largo com o pensamento pintado no rosto “EU QUERO VOLTAR PARA A ILHA!”
Acordaram-me do estado de hipnotismo apavorado com uma bolada pela cabeça:
-“Hei? Auu, Cuidado!”
-“Desculpa lá, despenteei-te!” Disse um deles que se aproximava de mim, tirando-me a bola das mãos, com ar e voz de gozo. Lá por ter uma franjinha loira e uma camisola que dava para ver um bocado do peito, deve pensar que é bom! Juro que me esforcei para não o fazer, mas não resisti a levar a mão á cabeça para ajeitar o cabelo.
O rapaz começou-se a rir:
-“Não adianta, continua despenteado!”
-“E tu? Vais continuar a ser parvo e não me vais dar as desculpas devidamente?”
Ele olha para mim com cara de “WTF”:
-“Ninguém te mandou pores-te à frente do meu lançamento!”
-“E a ti, alguém te mandou teres tão má pontaria?”
-“Eu tive uma pontaria óptima, quantos pontos é dado para acertar na cabeça?”
-“Depende…Como sou um simpático, até te dou a escolher, quanto pontos queres que te façam no fim de te dar um murro?”
Apesar de não acreditar que ele me fosse bater, o rapaz chegou-se a mim com um ar ameaçador e logo veio um outro rapaz:
-“Hei, hei, Jonghyun, tem calma! É só um novato, não lhe ligues! Anda jogar.”
-“Tens razão, ahaha, afinal de contas, ele já está despenteado, não adianta cansar-me!”
Não sou de ficar calado a provocações, queria dar uma resposta mas não consegui…Senti-me frágil, gozado e derrotado.
Fingi que nada me estava a afectar e virei-lhe as costas, andei com a firmeza mais confiante que consegui.
Sentia frio quando andava pela rua, o sol deixava de lá bater e a sombra que lá ficava era gelada.
Fui surpreendido com o final das casas, o que completava agora a rua era um centro comercial e um parque de estacionamento. Será que me enganei no sítio?
Perguntei a um senhor que passava, mostrando-lhe um papelinho:
-“Olhe desculpe, estou no sítio certo para encontrar esta morada?”
-“Está sim rapaz, esta é a rua, mas este número já não existe!”
-“Como não?”
-“Então o menino não está a ver que agora está aqui um centro comercial construído? Certamente essa casa ou foi vendida ou abatida!”
-“O o obrigado!”
Afastei-me do senhor e voltei para traz, sufocado, desorientado, a cambalear a tentar controlar os nervos.
Deixo-me cair num banco de pedra e choro:
-“Sou tão parvo, o que pensava eu? Devia de querer que os meus pais ainda estivessem à porta com um cartaz e balões a dizer “Bem-vindo Filho, somos os teus pais e amamos-te!”, Sou tão ridículo!”
Tento limpar as lágrimas mas estavam descontroladas a tristeza de estar tudo mudado, de a casa ter desaparecido, fazia desaparecer também a esperança que trazia quando pensei em fazer esta viagem.
Aquela notícia arrebatadora impedia-me de pensar e não sabia para onde haveria de ir agora nem o que fazer a seguir…
Quando ia a levantar o rosto, apanhei um susto que quase me fez cair do banco abaixo. Uma velhota olhava para mim a 2 centímetros da minha cara, muito séria e surpreendida:
-“Eu conheço-te?”
-“Não deve conhecer, não sou de cá e nunca devia ter vindo!”
-“Porque estás a chorar dessa maneira? Magoaste-te?”
-“Sim…Estou desiludido e perdido!”
-“Anda acalma-te, tudo se resolve, limpa as lágrimas e vem comigo beber um chazinho a minha casa, é aquela já ali à frente!”
-“Não…nem pensar, não lhe quero dar trabalho, de jeito nenhum!”
-“Ora deixa-te de maluquices rapaz! Não dás trabalho nenhum, sou uma velha sozinha, já a dar para o maluca…”
A maneira divertida como me confrontava, dava-me vontade de rir:
-“Velhos são os trapos!”
-“Olha assim é que eu gosto, um rapaz bonito e sorridente…Vem daí, eu dou-te um chá, tu dás-me a tua companhia e se quiseres contas-me o que te anda a atormentar para te fazer chorar daquela maneira!”
Assim que entrei naquela casinha amigável, senti-me acolhido e protegido, cheirava a bolo e havia lá uma jarra de flores coloridas, daquelas que costumava dar à minha tia.
Enquanto bebia o chá, explicava à velhinha o que me tinha trazido até cá e o que me tinha desapontado.
Ela ouvia a minha história com muita atenção e assim que acabei de contar ela sorrio-me:
-“Pequeno Key?”
-“A senhora conhecia-me? Conhecia a minha mãe e o meu pai?”
-“Era uma vizinha dedicada, ajudei a criar-te, olha só como cresces-te e que lindo que te tornas-te! Não me lembrava era que tinhas o cabelo às cores ahah!”
-“Então era amiga dos meus pais?”
-“Conhecia-os bem, principalmente quando eram da tua idade, eram uns jovens encantadores, um pouco irreverentes para a altura, malandrecos e muito beijoqueiros, mas bons miúdos! Já a tua tia era muito mais calminha e pés na terra, fui professora dela de piano, conhecia-a melhor a ela…Mas sou capaz de ter por ali umas fotografias e umas coisas dos teus pais que, confesso que guardava aqui para se um dia, tu ou a tua tia voltassem...Compreendo que se tenham ido embora, mas acho mal!”
A velhinha volta com uma caixa de cartão e deu-ma para as mãos:
-“Tens aí um bocadinho da tua busca, mas acredita que vais passar a tua vida a descobrir mais e mais coisas, não enlouqueças com a pressa rapaz, tem calma e não desesperes!”
Levantei-me e abracei-a de uma rajada:
-“Obrigado, a sério, muito obrigado!”
-“Continuas o mesmo Key carinhoso! Diz-me uma coisa, onde estás a pensar ficar nesta aventura?”
-“Irei alugar um quarto e arranjar um emprego para conseguir pagá-lo, trago dinheiro, mas não é muito!”
-“Oh rapaz ficas cá!”
-“Não, está fora de questão, não ficarei aqui às suas custas…”
-“Pronto então fazemos assim, para sossegares aqui o coração à velhota, ficas cá, vais arranjar um emprego e quando tiveres garantida a tua sustentação, saís do ninho se assim entenderes!”
-“Agradeço então, pode ser, se não for incomodo…”
A velhinha ficou radiante, ajudou-me a levar as malas para um quarto muito arrumadinho:
-“Anda, sente-te à vontade, este é o antigo quarto do meu filho.”
Pouso as malas e percorro o quarto com o olhar.
Era incrível, estava cheio de pinturas e fotografias de paisagens e pessoas, fiquei verdadeiramente encantado.
-“É bonito não é? O meu filho era um artista!”
As minhas atenções agora estavam concentradas numa foto que estava numa moldura em cima de uma mesa:
-“S S sou eu!! Quem é que está comigo?”
A velhinha olha por cima da lente dos óculos e tenta analisá-la:
-“Não sei, era lá no parque quando ainda era bonito! O meu filho adorava fotografar e pintar tudo, certamente viu-te a brincar com esse menino no parque e achou tão bonito e genuíno, que não resistiu a tirar uma foto!”
Eu contemplava a fotografia que tinha nas mãos. Nem tenho palavras para a descrever, era super bonita.
Era eu sentado na relva do jardim do largo, com flores à volta, o sol dava a iluminação perfeita, ao meu lado estava um menino, lindo, com um sorriso magnífico a olhar-me com um carrinho na mão. Eu retribuía o sorriso pondo a minha mãozinha pequenina no seu rosto.
Sorria ligeiramente ao olhar a foto, não me lembro daquele dia, não faço ideia de quem é o menino, certamente nunca mais o vou ver, mas aquela fotografia enchia-me a alma, causava uma alegria no peito que até podia acreditar que o iria voltar a ver e que o parque iria voltar a ser lindo e especial….
[Fim do capitulo 1]