XIV Capítulo – Ligações
11/6/1925, Tóquio, JapãoPOV TAEMIN
-“Taemin mantêm-te direito no cavalo, aonde estás com a cabeça meu menino? ... TAEMIN!”
O frio que senti no peito foi tão forte que acabei por não ter mais o controle dos meus movimentos.
Estava agora deitado no chão, apesar de não me ter aleijado muito com a queda, não me conseguia levantar nem me esforçava para isso, mantinha a cabeça escondida entre os braços, ainda completamente deitado.
A Amber agachara-se ao meu lado tocando-me no ombro, conseguia sentir que ela tremia de preocupação. É curioso, quando ela está preocupada, dá-lhe sempre para tremer.
-“Taemin, tu estás bem?”
Não respondo. Não estava bem, parecia que uma corda me apertava o peito e custava-me a respirar, era uma dor aguda.
Só me apetecia chorar, fechar os punhos e chorar com muita força.
Ainda consegui conter-me por momentos mas logo os meus olhos tornaram-se torneiras, ferrando as minhas mãos na terra onde estava deitado.
-“Taemin, não chores! Magoaste-te onde? Podes ter partido algo!”
Não lhe respondi, continuei a soluçar, parecia que me tinham arrancado um bocado de alma, não sei o que se está a passar comigo.
-“Taemin, tu não tens dores pois não? Essa maneira de chorar não é de quem tem dores! O que se passa contigo?”
Ela enganava-se, eu sentia uma dor, uma dor forte no meu peito que não conseguia explicar. Queria-lhe responder mas não conseguia controlar a respiração devidamente nem parar o soluçar, muito menos conseguir mover-me do sítio onde estava.
Amber agarra-me pelos ombros e, a esforço, consegue endireitar-me de maneira a ficarmos os dois sentados no chão frente a frente um com o outro.
-“Taemin, fala...”
Era em vão eu não conseguia. Nem encará-la eu conseguia, sem uma única vez ter levantado a cabeça, deixo o meu tronco cair sobre o abraço de Amber escondendo o meu choro abafado no ombro dela.
-“É o Minho, Taemin?”
-“…Amber…”
-“Shh, vá, tem calma, tudo irá ficar bem meu anjo, essa angústia que sentes, irá passar rapidamente vais ver. Só não fiques assim neste estado, de nada serve!”
-“Não sei o que se passa comigo!”
11/6/1925, Templo de Lótus, Montanha, Seoul, South KoreaPOV JINKI
-“Kibum, mas onde raio é que te enfias-te?” – Digo eu num bichanar, já no meio do mato, quando reparo que o Kibum não vinha atrás de mim como era o suposto.
Devagarinho, e agora, um pouco receoso, volto aos meus passos anteriores e procuro Kibum. Lá estava ele, todo encolhido atrás de uma árvore, com a esperança que eu não o visse.
-“Kibum, mas tu és parvo? Queres mesmo ficar para trás? Como vais fazer quando o urso se lembrar de ir aqui a esta árvore?” – Digo eu tentando não rir da carinha de medo que olhava para mim.
-“JinKi, podes falar baixo?”
-“Dá-me a mão, acredita que não vais querer ficar sozinho!” – Tento fazer a cara mais séria do mundo esticando a mão para ele.
Tal como eu previ, não demorou muito até ele me dar a mão e seguir comigo pelo mato.
Começo-me a sentir estranho quando chego a um “muro” de arbustos, algo me dizia que do outro lado iria encontrar algo que me apavorasse, sentia-me como se lesse um livro de terror, quando o autor, no meio da noite, põe uma janela a fechar repentinamente ou um copo da mesa-de-cabeceira a partir-se sozinho. Chamam-se a isso, indícios de terror, e era o que parecia que estava diante de mim, o meu coração parecia querer saltar-me pela boca.
O Kibum de igual modo ficara ainda mais tenso do que estava e pareceu até empalidecer um pouco.
Estava um silêncio aterrador mas eu sentia presença do outro lado dos arbustos. Até que, a tal presença deu o seu sinal. Pareceu-me um choro abafado de um homem.
Não sei que flash deu ao Kibum mas largou a minha mão e precipitou-se para os arbustos, atravessando-os fazendo-me segui-lo sem interrogar.
Não era um filme de terror, mas não era um cenário nada bonito.
Via um urso enorme, morto, com metade do corpo enterrado numa fenda esquisita que se abrira no solo, somente naquele local. Ao lado do urso, estava um rapaz, não um homem, como julguei, era um rapaz da minha idade ainda, ou talvez mais novinho, não consegui perceber bem pois estava ajoelhado, a chorar, abafando o seu choro com a mão que lhe tapava a pouca, pareceu-me ser num acto de pânico e surpresa.
Perto do urso e do rapaz, estava uma rapariga, essa sim tenho a certeza que era mais nova que eu, era pequenina e, embora estivesse em pé, com um rosto sério e inexpressivo a olhar aquele rapaz, notava que lhe doía o braço a sangrar que agarrava com força com a outra mão. Esta rapariga não me parecia Coreana, nunca tinha visto alguém com os olhos tão grandes.
O Kibum já se aproximava, pé ante pé, do rapaz que soluçava de joelhos, ia-se a inclinar para o ajudar a levantar mas eu agarro-lhe no braço, afastando-o um bocadinho, achando adivinhar o que se estava a passar naquele quadro.
-“Tu! Rapaz? Foste tu que gritas-te?”- Pergunto eu com uma voz firme, algo me dizia que não podia dar total confiança àquele sujeito.
-“Não foi ele, fui eu!” – Diz-me a rapariga, encolhendo-se mais, com a dor do seu braço.
Contorno o urso devagar até chegar a ela.
-“Deixa-me ver o teu braço!”
-“És o guarda da Montanha?”
-“Esta Montanha não tem guarda! Eu e o meu amigo apenas ficámos inquietos com os gritos que ouvimos e decidimos vir ver. Estás ferida!”
-“Saí da tenda para ir fazer chichi e um urso apareceu e eu assustei-me, gritei e acabei por assustar o urso e ele magoou-me no braço, mas não é nada de mais…”
-“Deve doer, isso está feio e a sangrar! Como te chamas?”
-“Sou a Leonor!”
Deixei de olhar a ferida por segundos para me apresentar. Ela fixa-me os meus olhos. Tinha um olhar verde e profundo, lindo, eram olhos únicos e mostravam uma força incrível.
-“Sou o Lee JinKi, aquele ali é o Kibum, meu amigo.” – Ela sorri olhando-me, fazendo-me sorrir também. A rapariga inspirava-me confiança.
-“Prazer em conhecer-te JinKi!”
-“Igualmente Leonor! Será que me consegues explicar, como o urso está morto?”
-“Eu estava em pânico com o ataque do urso, nunca tinha visto um urso, o Jonghyun ouviu-me e foi procurar-me e…”
Não sei explicar a ira com que fiquei, mas ela apareceu assim que a minha suspeita ficou esclarecida, aquele rapaz tinha morto um urso!
Vou até ele obrigando-o a levantar-se e a encarar-me:
-“PODES EXPLICAR-ME PORQUE ESTÁ UM URSO MORTO À TUA FRENTE? MATÁSTE-O NÃO FOI?”
-“JINKI!!!” Grita-me o Kibum com ar de reprovação.
-“Foi não foi? Porquê? Imagina que era uma mãe? Que será feito das suas crias?”
-“Desculpa eu-eu, não me consegui con-controlar, queria apenas proteger a minha irmã!”
O rapaz estava sufocado de chorar. Tinha sido mais cruel do que tencionava, mas algo me estava a irritar profundamente, algo que me inquietava principalmente por não saber do que se tratava.
-“JINKI, SAÍ DA FRENTE, AGORA!”
O Kibum tinha gritado comigo, com uma cara muito séria até eu sair da frente do tal rapaz que pelo que parecia, se chamava Jonghyun.
Vejo-o a inclinar-se delicadamente sobre o urso e a mimar-lhe a cabeça, depois, agarra nos ombros de Jonghyun e fixa-o ate o rapaz o encarar e acalmar, devagarinho, até parar de chorar, como se Kibum lhe tivesse a fazer um encantamento.
Um sorriso doce surge nos lábios de Kibum, aconchegando o outro rapaz destroçado:
-“Jonghyun? Não é assim o teu nome?”
-“S-sim!”
-“Tem calma, tanto eu como o JinKi compreendemos que não fizeste por mal Jonghyun. O JinKi apenas se enervou ao ver o urso morto, é uma vida, ando a ensiná-lo bem ahaha!”
-“Kibum eu não queria…estou assustado…”
-“Eu sei Jonghyun, eu sei, tens o teu poder descontrolado, é natural, eu vou ajudar-te e o JinKi também.”
-“O meu poder? Tu sabes do…”
-“Sei Jonghyun, quem mais poderia enterrar um urso deste tamanho? Aliás, eu já te vi antes!”
-“Já?”
-“JinKi, encontramos o nosso elementar da terra!”
Não podia acreditar que o tínhamos encontrado, e eu fui um bruto com ele. Porquê? Não devia ter sido algo telepático como aconteceu com o Kibum?
Vejo o Jonghyun a agarrar a cabeça com as mãos, provavelmente estava muito assustado, confuso, eu compreendia-o.
Passo a passo, vou até ele agarrando-lhe nos pulsos, permitindo-me a olhá-lo nos olhos:
-“Jonghyun! Desculpa, vem…tu e a Leonor, vamos para o Templo, amanha de manhã, com o nascer do novo dia, vamos conseguir pensar melhor, ver as coisas mais claramente!”
-“Tenho medo…EU COM UM SIMPLES GESTO MATEI UM URSO ENORME JINKI!”
-“Não te martirizes, há um motivo por teres tanto poder. Foste o escolhido, tal como eu fui e tal como aconteceu comigo, vais estranhar ao inicio. Mas eu estou aqui e o Kibum também, não estás sozinho!”
-“EU SOU PERIGOSO JINKI!”
O meu coração dói ao ver a dor dele, parecia achar-se um monstro, poderia imaginar a angústia que estava a sentir. Largo-lhe devagar os pulsos deixando-o mais livre e quando me ia afastar dele, ele deixa cair o seu corpo cansado, para cima do meu peito, agarrando-me a camisola com força a chorar de novo.
Fiquei muito surpreendido com a atitude dele, ainda à segundos tinha sido rude com ele.
Eu que raramente era rude, tinha sido para aquele rapaz que, segundo o que o Kibum me diz constantemente, está muito ligado a mim tal como os restantes elementares.
Deixo as minhas mãos percorrerem as costas dele enquanto o deixava chorar, desejando confortá-lo.
O choro dele ecoava sozinho em toda a montanha silenciosa, sendo depois acompanhado pelo elogio de Kibum às botas e aos olhos da bonita Leonor.
11/6/1925, Tóquio, JapãoPOV TAEMIN
-“Taemin, filho, o pai da Amber contou-me que cais-te de cavalo lá na casa dela, magoaste-te?” – Pergunta a minha ummah, assim que chega a casa.
-“Não ummah eu estou bem!”
Estava sentado no sofá da sala a olhar pela janela, estava a chover lá fora, e eu adoro ver a chuva a cair, porém, os meus pais não me deixavam concentrar na chuva, estavam os dois, muito direitos e sérios a olharem para mim.
-“Ummah, appa, o que se passa?”
-“O teu pai tem uma coisa muito séria a falar contigo.”
Via os olhos da minha mãe a brilhar, prestes a chorar. Comecei a ficar muito preocupado.
-“Appa o que se passa!”
-“Eu e a tua mãe decidimos abrir um negócio em Seoul, a cidade está a crescer e penso que nos sairíamos bem lá, mas, até haver certezas desse sucesso, não podemos deixar os negócios de Tóquio. Pensamos muito sobre o assunto e decidimos que, eu irei para Seoul enquanto a tua mãe ficará aqui a suportar os nossos negócios presentes.”
-“Mas pai…”
-“Taemin, filho, podes decidir para onde queres ir, nem a tua mãe nem eu iremos ficar magoados com a tua decisão.”
Quase que instintivamente disse que queria ir para Seoul, o que fez a minha mãe desatar a chorar.
...continua...